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10 novembro 2006

Sobre o Socialismo e o Universo

Faz alguns dias que não escrevo nada por aqui... As nossas atividades "oficiais" nos consomem um tempo danado. Mas luto para que chegue o dia em que teremos mais tempo para "fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico"[1]. Por enquanto, nesta sociedade capitalista, tenho minha profissão e tudo o mais que ela não me "rouba". Ainda não consegue robar o que acumulo, no bom sentido, no cérebro.

Qual o motivo desta visita? Bem, domingo passado, na série "Poeira das estrelas"[2], apresentada no Fantástico (TV Globo) pelo Físico Marcelo Gleiser uma questão se fez latente em minhas sinapses já um tanto cansadas.
O episódio tratava sobre a existência de vida extra-terrestre e lá pelas tantas Gleiser cita uma frase atribuída ao conhecidíssimo Físico britânico Stephen Hawking, teria dito ele: "civilizações tendem a se auto-destruir antes de atingir o grau de desenvolvimento tecnológico necessário para se fazer uma viagem interestelar". [2] No seu comentário, Gleiser afirma que mal dominamos a tecnologia para fazer uma viagem à Lua, mas que no entanto, possuímos uma tecnologia para destruir a Terra milhares de vezes.
Foi este aspecto da matéria que me chamou à atenção: Gleiser não nos fornece uma alternativa para a não destruição de nossa civilização, o que nos resta, segundo ele, é o estudo das formas de vida não-inteligente, através de uma nova ciência chamada Astrobiologia.
A militância em prol da construção de uma sociedade socialista me possibilita, a todo tempo, estabelecer outro tipo de relação com determinados tipos de informação. Para nós socialistas, a questão está posta há muito tempo: ou construímos o socialismo hoje, e implantamos neste planeta uma forma de produção na qual não sejamos escravos do capital, ou o seremos vítimas da barbárie que assolará toda a humanidade, sem contar com a destruição do próprio planeta.
Esta afirmação é defendida em um livro chamado "Teses para a atualização do Programa de Transição"[3], de Nahuel Moreno, militante do movimento trotskysta argentino. Este livro surgiu da necessidade de alterar, segundo acreditava, os "dois pilares da concepção trotskysta: a Teoria da Revolução Permanente e o Programa de Transição"[3], ambos de autoria do revolucionário russo Leon Trotsky. Não entrarei em detalhes sobre os dois últimos livros, apenas apresentarei as referências ao final.
A Tese XL, apresentada por Moreno, "Holocausto ou trotskismo. Uma necessidade imperiosa: a conquista do cosmos", apresenta um título que pode parecer por demais exagerado, mas na verdade expressa aquilo que de fato pensamos que pode ocorrer, caso a história da sociedade não dê uma guinada drástica. Moreno diz: "Os colossais meios de destruição desenvolvidos pelo imperialismo e pelos estados operários burocráticos modificaram o perigo que a humanidade enfrenta. Já não se trata da queda de um novo regime escravista, bárbaro, mas de algo muito mais grave: a possibilidade de que o globo terrestre se transforme num deserto sem vida ou com uma vida degradada devido à degeneração genética provocada pelos novos armamentos. Mas não somente existe o perigo de degradação da vida devido a uma guerra atômica; também existe um perigo imediato: que se continue destruindo a natureza, principalmente as fontes de energia, base essencial do domínio da natureza elo homem".[3]
Para Moreno, a única saída para a humanidade é a construção do socialismo. Ele destaca que, em sua fase progressista, o capitalismo cumpriu o desafio que lhe foi proposto, ou seja, a conquista do mundo todo. "A humanidade socialista tem outro desafio maior, o maior que a humanidade já teve: justamente no monento em que a continuação do regime imperialista ou de regimes burocráticos nos levam ao holocausto da espécie humana, o trotskismo assinala a possibilidade do maior salto já feito pela humanidade: a conquista do universo pelo socialismo".[3]
Alguns podem achar a discussão apresentada um tanto quanto cômica, os que tentam pensar primeiro, vêem alguma plausabilidade nestes estratos. Moreno não escreveu esta tese como divertimento, pelo contrário, apontava uma questão séria até então pouco discutida nos mais diversos meios, e que agora, volta à tona em uma série de TV de grande audiência.
Sobre a conquista do cosmos vários são so autores que se pronunciaram. Um deles em particular é o Físico norte americano Michio Kaku. No seu belíssimo livro de divulgação científica, "Hiperespaço", Kaku nos faz viajar pelas mais surpreendentes teorias da Física, abordando as suas histórias com um estilo "assaz aprazível" à leitura. Os temas centrais do livro são as dimensões superiores à quarta, bem como a teoria das supercordas. [Peguei o livro para ver a referência e quase não volto pra terminar este texto que já está bastante longo].Pois bem, o capítulo que nos interessa é o 13°, "Além do futuro", mais precisamente no subtítulo: "Civilizações Tipo I, II e III". Aqui, Kaku apresenta a classificação dada pelo astrônomo soviético Nikolai Kardashev aos diferentes tipos de civilização. Antés, porém, Kaku adverte o leitor quanto aos perigos da Futurologia, definida por ele como "a previsão do futuro com base em julgamento científico razoável". [4] Oriento, do mesmo modo, uma certa reserva.
Vejamos as definições apresentadas em Hiperespaço:
"Uma civilização do Tipo I é aquela que controla os recursos energéticos de um planeta. Essa civilização é capaz de controlar o clima, evitar terremotos, minerar em níveis profundos da crosta terrestre e tirar proveito de todos os oceanos. Essa civilização já completou a exploração de seu sistema solar.
Uma civilização do Tipo II é a que controla o poder do próprio sol. Isso não significa aproveitar passivamente a energia solar; esta civilização minera o sol. As necessidades de energia dessa civilização são tão grandes que ela consome diretamente a força do sol para mover suas máquinas. Essa civilização vai começar a colonizar sistemas estelares locais.
A civilização Tipo III control a força de toda uma galáxia. Como fonte de potência, ela explora a força de bilhões de sistemas estelares. provavelmente dominou as equações de Einstein e é capaz de manipular o espaço-tempo à vontade". [4]
Esta definição parece à primeira vista um tanto quanto alucinadas, motivadas em demasiado por uma visão de ficção científica, a la "Jornada nas Estrelas", mas guarda uma particularidade importante: o fato da obtenção da energia. "As civilizações de Tipo I usam a potência de um planeta inteiro. Civilizações Tipo II, a de uma estrela inteira. Civilizações de Tipo III usam a potência de uma galáxia inteira".[4]
A nossa civilização mal consegue prever o clima, que dirá controlá-lo! E é sobre este fato que se casam as idéias de Moreno e as apresentadas por Kaku: caso não alteremos a ordem atual da sociedade, dificilmente saíremos da Civilização Tipo 0. Daí uma das necessidades imperiosas de destruir o capitalismo, como diria Moreno. Não que o ideal seja a outra civilização subsequente, nos baseamos no fato concreto de que os recursos natuarais são esgotáveis, de modo que a necessidade de nos utilizarmos de outras formas de nos prover energia nos impulsiona a dominar as que dispomos. Trata-se de saber como dominar, neste ponto, não conheço outra alternativa diferente da construção imediata do socialismo, nos levando do reino da necessidade ao reino da liberdade.

Referências
[1] MARX, Karl. ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Grijalbo, São Paulo: 1977.
[2] GLEISER, Marcelo. Poeira das estrelas. Fantástico, 10° Episódio (05/11/06). TV GLOBO, 2006.
[3] MORENO, Nahuel. CS Editora, São Paulo: 1992.
[4] KAKU, Michio. Hiperespaço. Rocco, Rio de Janeiro: 2000.

Outras:
TROTSKY, Leon. A Revolução Permanente. Kairós, São Paulo: 1985.
TROTSKY, Leon. Programa de Transição. Sundermann, São Paulo: 2005.

Um comentário:

  1. ótimo texto, Alisson! simplesmente, vc tira a conclusão: não há possibilidade de falarmos em avanço, se não construirmos uma civilização que não ande sempre de mãos dadas com a barbárie

    abração,

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